Você sabe perdoar ou apenas desculpa?

Você sabe perdoar ou apenas desculpa?

Vamos falar inicialmente sobre a diferença entre “desculpas” e “perdão”. Quando alguém pede desculpas, quer dizer que ela está “tirando a culpa” daquela pessoa pelo que ela fez, para que ela não precise mais viver com aquilo em sua cabeça, mas não quer dizer que ela conseguiu esquecer. Perdoar é esquecer, é não lembrar mais, e ter superado completamente o erro alheio.

Quando você diz que perdoa alguém e não perdoa, funciona mais ou menos assim: Vagner traiu Priscila  e eles se separaram. Eles reataram depois de alguma conversa, e ela disse que havia perdoado seu erro. Duas semanas depois, eles discutiram e o assunto já estava em pauta novamente: “você me traiu, lembra?”

Será que a Priscila perdoou mesmo? Não! Se eles conseguiram reatar, é porque ela o desculpou, mas no momento em que ela joga na cara dele tudo o que aconteceu, é porque aquilo está cristalizado e não foi esquecido, logo, ela não pode dizer que perdoou, ou ela não sabe o que é perdoar mesmo.

 

A dificuldade de perdoar

Algumas pessoas simplesmente não sabem perdoar, e isso é um grande problema, porque toda briga que acontecer, este fantasma do passado vai voltar pra estragar a relação, mostrando que o casal ainda não estava pronto pra reatar.

Quando você pensar em reatar, esteja certo de que tudo tenha sido perdoado de verdade, ou conviva com o fantasma dos erros que um dos dois cometeram, rondando cada briga, ou simplesmente as gerando.

Algumas pessoas acreditam que basta dizer: “eu te perdoo” ou “já esqueci” para que as coisas fiquem bem. Porém, doenças, acidentes e uma vida cheia de infortúnios revelam que este perdão não aconteceu, posto que tudo o que jogamos na vida, seja na forma de pensamentos ou emoções, retorna para nós no mesmo grau. Ou seja, se ainda existe rancor dentro de nós, ele não irá desaparecer no ar só porque não estamos prestando atenção.

 

O perdão e o ego

O que nos faz ter dificuldade em realmente perdoar é o nosso ego, também conhecido como amor-próprio. Quando nos sentimos feridos, lesados ou ofendidos, nosso coração se enche de mágoa e ficamos revivendo aquele momento negativo, várias e várias vezes. Se é muito dolorido, procuramos esquecer. Porém, basta que algo semelhante nos aconteça para que todas aquelas emoções negativas retornem com força total. É nessa hora que percebemos que as coisas não estão tão bem quanto imaginávamos.

O problema disso tudo é que guardar um ressentimento envenena nosso corpo e nos mantém prisioneiros de uma ilusão, na qual nós somos vítimas de um terrível algoz. Isso acontece porque não compreendemos que ninguém é vítima de ninguém e que, no fundo, não há como alguém nos ferir ou atingir, ao menos quando o permitimos por causa de nossa insegurança.

É óbvio que esquecer, não significa apagar do pensamento, deletar da memória, assumir um Alzheimer seletivo, precoce e temporário. Não é nada disso. O perdão exige que a gente se esqueça não do fato – mas de como ele nos fez sentir.

Dizer que perdoou uma eventual traição, mas se sentir traída sempre que o cafajeste dá as caras não é perdoar.

Se orgulhar por ter desculpado a amiga que não soube guardar segredo, mas não perder a oportunidade de comentar num churrasco em família o quanto ela foi sacana não é perdoar.

Aceitar de volta o filho que fez as malas e foi embora no meio da maior crise familiar, mas jogar o abandono na cara dele ao menor sinal de discussão não é perdoar.

O que a gente faz é ressignificar as nossas dores – e a importância que elas assumem nas nossas vidas. Se um mês após uma traição a gente nem conseguia olhar nos olhos de alguém e hoje a gente já tá trazendo “pessoas desconhecidas” pra dormir em casa, é porque a dor de ter sido traída, hoje, ocupa um outro lugar e, com sorte, virou uma outra coisa. Mas ainda assim, a gente tá longe de perdoar. Porque perdoar exige renúncia a muita coisa – especialmente ao sabor (sempre delicioso) de se estar coberto de razão.

Agora, a partir do momento em que se perdoa, já era. Porque perdoar pressupõe voltar a um patamar de igualdade. RecomeçarAssumir um estado natural de confiança mútua, até que a promessa seja quebrada novamentePerdoar é tratar o passado como passado, viver o presente e ter perspectivas de construir um futuro bom com quem foi perdoado.

 

Os benefícios do perdão

A paz é a pacificação interior de cada ser humano. É por ela que as suas pendências emocionais, seus conflitos interiores e suas dificuldades podem ser resolvidas e vem do verdadeiro perdão e do saber amar incondicionalmente.

O perdão verdadeiro é o ponto de partida para a paz. É trilhado pela libertação dos laços que nos prendem aos erros do passado e da libertação das amarras com as quais mantemos aprisionados por culpar aqueles que nos afligem. Enquanto houver culpa, não haverá perdão.

 A libertação da culpa gera paz, porque aceitamos que somos seres evoluindo através de múltiplas experiências, algumas que deram certo e outras cheias de erros, mas que não sabíamos antecipadamente como lidaríamos com elas se não nos submetêssemos às experiências da vida. Ao julgar os outros culpados, estamos nos julgando da mesma maneira e projetando nossas próprias culpas dissimuladas.

Pacifique-se. Comece por perdoar a si primeiro. Comece pelo entendimento de que toda luta reforça o adversário. Assim, quando você luta contra seus próprios erros e suas culpas, está criando mais conflitos e reforçando os erros e a consequente culpa por tê-los cometido, e vai projetar isso nos outros, porque não consegue se perceber errado ou culpado sem o espelho dos outros. O erro e a culpa projetados nos outros são seu próprio erro e culpa que você não consegue lidar e se perdoar.

Enquanto não olhar para o fundo desse oceano inconsciente de si mesmo, a sua sombra apenas continuará escondendo seus fantasmas, mas eles não morrerão só porque os nega ou luta contra eles. Olhe para dentro de si. Só a luz da consciência pode transmutar o fundo sombrio do seu passado, e libertar você dessas amarras que o mantém em constantes lutas atraindo situações conflitantes para a sua vida. A luz da consciência começa a ser acesa pelo perdão geral de todas as confusões nas quais se meteu no passado, e que carrega como sombra em suas memórias, e segue se expandindo no amor, sem julgar a quem ou em quais condições amar. Reconheça seus erros, veja o que poderia ter feito melhor e deixa fluir. Perdoe-se. A paz está dentro de você!

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